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Atividade Física Aguda e Memória Motora: O Potencial de Sessões Únicas

A relação entre atividade física e funções cognitivas tem sido objeto de crescente atenção científica, em particular no que respeita à memória motora. Recentes investigações apontam para o potencial de sessões únicas de exercício físico (atividade física aguda) na melhoria da consolidação de memórias motoras. Uma revisão sistemática em formato scoping, publicada por Roig Hierro et al. (2022), analisou exaustivamente esta relação, identificando os fatores que influenciam a eficácia destas intervenções. Este artigo sintetiza os principais resultados e implicações dessa revisão.

Parâmetros da Atividade Física e Efeitos Cognitivos

A intensidade do exercício físico emerge como um dos principais moderadores dos efeitos sobre a memória motora. Evidências neuroendocrinológicas sugerem que o exercício de alta intensidade estimula a libertação de neurotransmissores e do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), facilitando a consolidação de memórias. A maioria dos estudos analisados (78,4%) utilizou protocolos de alta intensidade, com resultados positivos significativos na retenção motora após 24 horas e até sete dias após a tarefa de aprendizagem.

Contudo, investigações pontuais também indicam que exercícios de intensidade moderada podem gerar efeitos benéficos, especialmente quando a duração ou complexidade da atividade é ajustada. A duração média dos exercícios analisados variou entre cinco e 40 minutos, sendo a relação entre intensidade e exigência energética determinante para os ganhos observados.

Outro fator relevante é o momento em que o exercício é realizado em relação à tarefa motora. Quando o exercício ocorre após a aprendizagem motora, os benefícios observados tendem a ser superiores, refletindo-se numa consolidação mais robusta da memória. Cerca de 70% dos estudos com exercício pós-tarefa reportaram melhorias significativas, enquanto o exercício anterior à tarefa mostrou efeitos menos consistentes.

Tipologia de Exercício e Tarefa Motora

Embora a maioria dos estudos tenha utilizado ciclismo estático como modalidade de exercício, formas mais complexas — como dança ou atividades desportivas — também demonstraram eficácia. A exigência coordenativa e cognitiva das tarefas parece influenciar os resultados, sugerindo que exercícios mais complexos podem potenciar a atividade cortical envolvida na consolidação da memória.

No que toca às tarefas motora utilizadas, a diversidade foi significativa, incluindo desde tarefas de seguimento visomotor (VAT) até à execução de padrões motores sequenciais. Os melhores resultados foram observados em tarefas que exigiam precisão e repetição, especialmente nas que envolviam VAT, onde quase todos os estudos relataram melhorias claras com a inclusão do exercício físico.

Por outro lado, tarefas de locomoção em passadeira ou coordenação bimanual revelaram menor sensibilidade ao efeito potenciador do exercício. Estas diferenças indicam a necessidade de considerar as especificidades da tarefa na conceção de intervenções que visam melhorar a memória motora por via da atividade física.

Variáveis Individuais e Implicações Metodológicas

A maioria das amostras analisadas era composta por jovens adultos saudáveis, mas alguns estudos incluíram crianças e pessoas idosas, com resultados igualmente positivos. A idade, o género e o nível de aptidão física são potenciais moderadores que merecem maior atenção em estudos futuros.

As limitações metodológicas mais recorrentes incluíram tamanhos de amostra reduzidos, ausência de testes de retenção a longo prazo e falta de cegamento nos procedimentos experimentais. Estes aspetos comprometem a generalização dos resultados e sublinham a necessidade de normalização dos protocolos experimentais no campo.

Considerações Finais

A revisão conduzida por Roig Hierro et al. oferece um enquadramento abrangente sobre os fatores que modulam os efeitos da atividade física aguda na memória motora. A identificação de variáveis-chave — intensidade, duração, momento de aplicação, tipo de tarefa e características dos participantes — permite delinear diretrizes para intervenções mais eficazes.

O aprofundamento desta linha de investigação poderá ter repercussões significativas em contextos educativos, clínicos e desportivos, contribuindo para práticas baseadas em evidência que promovam não só o desempenho motor, mas também a saúde cognitiva. O desafio futuro reside na consolidação de protocolos padronizados que maximizem os benefícios do exercício físico sobre a memória, respeitando a diversidade dos contextos de aplicação.

Referência:Roig Hierro, E., Guillem Molins, M., & Batalla Flores, A. (2022). Actividad física puntual y memoria motriz, los elementos de la interacción: Revisión Scoping. Retos, 45, 410–421.

Consulte o artigo completo aqui

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