
No ano em que se assinalam os 50 anos sobre a criação dos Institutos Superiores de Educação Física (ISEF), a publicação do livro O corpo na Universidade – uma porta que Abril abriu, da autoria de José Cordovil, surge como um marco relevante para a historiografia da Educação Física e do Desporto em Portugal. O lançamento da obra, ocorrido a 19 de maio de 2025, no Salão Nobre da Faculdade de Motricidade Humana (FMH), contou com a presença de diversas personalidades académicas e institucionais, sublinhando a importância do contributo aqui reunido para o conhecimento crítico sobre o processo de integração da área no ensino superior universitário.
Uma análise testemunhal e documental sobre a entrada da Educação Física na Academia
A obra de José Cordovil constitui uma narrativa fundamentada sobre o longo percurso institucional que culminou na formalização da presença da Educação Física no espaço académico, tendo como ponto de inflexão a Revolução de Abril de 1974. Partindo da criação do INEF em 1940 e culminando na promulgação do Decreto-Lei n.º 675/75, de 3 de dezembro, o autor traça uma cronologia marcada por esforços persistentes de docentes, técnicos e decisores políticos em defesa do reconhecimento universitário da formação em Educação Física.
Recorrendo a fontes primárias, algumas das quais até agora pouco divulgadas, Cordovil reproduz documentos e exposições enviadas ao poder político, evidenciando os argumentos mobilizados à época para justificar a necessidade de integração da área na universidade. Através deste corpus documental, o leitor tem acesso às tensões, alianças e resistências que marcaram o processo, revelando uma dimensão política e ideológica que transcende o mero tecnicismo curricular.
Uma obra com relevância historiográfica e formativa
Segundo António Teodoro, Professor Catedrático da Universidade Lusófona, a obra de Cordovil assume um valor singular como “repositório analítico e crítico”, estabelecendo pontes com abordagens epistemológicas que problematizam a profissionalização docente e os seus enquadramentos institucionais, à semelhança do modelo proposto por António Nóvoa em Le Temps des Professeurs. Para Teodoro, este livro representa um ponto de partida para um trabalho historiográfico mais sistemático sobre a Educação Física em Portugal.
Também o Presidente da FMH, Luís Sardinha, destacou o momento oportuno da publicação, enquadrando-a nas comemorações dos 50 anos da escola no ensino superior e reconhecendo o seu contributo para que a universidade cumpra o seu papel de guardiã e promotora da memória coletiva da profissão.
Já Pedro Dias, Secretário de Estado do Desporto, realçou a importância da obra enquanto “memória viva de uma conquista e de uma transformação essencial para o nosso país”, valorizando o rigor da investigação e o envolvimento direto do autor nos processos históricos que retrata.
Um legado que interpela o presente
A publicação de O corpo na Universidade reforça a necessidade de manter viva a reflexão crítica sobre o papel da Educação Física e do Desporto no espaço académico. A consolidação desta área como campo científico e pedagógico foi o resultado de uma luta persistente por reconhecimento institucional, cujos ecos se mantêm relevantes face aos desafios contemporâneos: desde a formação inicial de professores ao papel da motricidade humana na promoção da saúde, da inclusão e da cidadania ativa.
A Sociedade Portuguesa de Educação Física assinala esta obra como uma referência incontornável para todos os que, nas últimas décadas, contribuíram — e continuam a contribuir — para o desenvolvimento da área no sistema educativo e científico nacional. O livro de José Cordovil não é apenas uma memória do passado; é também uma convocatória à responsabilidade coletiva de preservar e aprofundar o papel da Educação Física na universidade democrática.
Consulte mais informações sobre a obra em:https://www.bertrand.pt/livro/o-corpo-na-universidade-jose-cordovil/31872170