
O relatório Unlocking High-Quality Teaching, recentemente publicado pela OCDE, oferece uma análise abrangente sobre o que caracteriza o ensino de qualidade e como este pode ser promovido nas escolas. Sustentado por dados de mais de 150 escolas em 50 países, o documento propõe uma estrutura integrada que articula investigação científica, saber profissional e condições contextuais, permitindo uma abordagem mais refinada e baseada em evidência para a melhoria do ensino — em qualquer disciplina, incluindo a Educação Física.
Para lá das dicotomias pedagógicas: ensinar é complexo
O relatório parte do reconhecimento de que o ensino é uma atividade complexa e multidimensional, que não se reduz a categorias simplistas como “tradicional” vs. “progressivo” ou “ativo” vs. “passivo”. Em vez disso, propõe a superação dessas oposições em favor de um entendimento mais granular das práticas pedagógicas, visto que a eficácia do ensino depende da sua adequação a objetivos específicos, contextos e necessidades dos alunos.
Neste sentido, o relatório identifica cinco grandes metas do ensino de qualidade:
Assegurar o envolvimento cognitivo dos alunos;
Conceber conteúdos disciplinares de forma rigorosa e contextualizada;
Proporcionar apoio socioemocional em sala de aula;
Promover interações pedagógicas de qualidade;
Utilizar avaliação formativa e feedback construtivo.
Um repertório de 20 práticas com base científica
Para operacionalizar estas metas, a OCDE apresenta um conjunto de 20 práticas pedagógicas, selecionadas com base na evidência acumulada de estudos experimentais e de observação. Cada prática é descrita com exemplos concretos, sinais de eficácia (observáveis nos alunos) e decisões críticas que os professores devem considerar na sua implementação. Esta abordagem fornece uma linguagem comum para a análise do ensino e permite que professores e formadores reflitam sobre a sua prática com maior precisão e intencionalidade.
Por exemplo:
O envolvimento cognitivo exige atividades que desafiem os alunos a resolver problemas complexos e a refletir sobre os seus próprios processos de aprendizagem;
A interação em sala de aula implica a gestão equilibrada do discurso entre professor e alunos, fomentando a equidade e a participação ativa;
A avaliação formativa requer ajustamentos contínuos ao ensino com base no feedback dos alunos, exigindo elevada sensibilidade pedagógica por parte dos docentes.
A Educação Física neste quadro internacional
Embora o relatório não se centre especificamente na Educação Física, os princípios enunciados são altamente pertinentes para esta área, onde o ensino implica simultaneamente o domínio de competências motoras, sociais e cognitivas. A estrutura proposta pode ser mobilizada para repensar práticas didáticas em Educação Física, por exemplo:
Utilizando feedback específico durante tarefas motoras;
Integrando contenções cognitivas nas atividades físicas (e.g. resolução de problemas em jogos);
Promovendo interações cooperativas para reforçar competências socioemocionais.
A Educação Física, enquanto disciplina orientada para o desenvolvimento holístico dos alunos, beneficia particularmente de uma abordagem que reconhece a interdependência entre conteúdo, relação pedagógica e estratégia didática.
Condições para o ensino de qualidade: a importância do contexto escolar
O relatório sublinha que o ensino de qualidade não depende apenas do desempenho individual do professor, mas também do ambiente organizacional da escola. Liderança pedagógica, cultura de colaboração, condições materiais e gestão curricular são fatores críticos que potenciam — ou inibem — a implementação eficaz das práticas.
Neste sentido, a valorização do saber profissional docente e o investimento na formação contínua são condições estruturantes para transformar as escolas em espaços de aprendizagem partilhada e melhoria sustentada.
Consulte o relatório completo da OCDE:https://doi.org/10.1787/f5b82176-en